Despindo Rotinas

Amanheci com um gosto imperdoável de rotina na língua...

Procuro o sabor urgente de um dia novo, uma travessa de promessas alcançáveis, uma taça de delícias transbordando para o brinde... e nada, só esse gosto desfocado de mesmices diárias me vem à boca...

Tenho os olhos embaçados de noites repetidas, tenho o corpo cansado de horas amontoadas sobre o leito revirado...e amanheço com saudades dos braços que não me abraçam, senão na imaginação...

Ficamos com as órbitas atônitas de tantas rotas desencontradas, fiquei eu inexpressiva e quase sem digitais de tantas palavras que rascunhei antes de me passar a limpo, porém antes que minha pele murche, antes que meus passos se calem de vez; terei os verbos prontos e as mãos abraçadas às que quero pra mim.

Abençoe a minha perversão, peque mais vezes na minha consagração, só assim essa esperança tola de beber mais um dia de cara nova deixará de ser simulação. E para que essa sangria não passe de uma página virada sem uma assinatura legível, deixo entornar os meus recados, os meus medos abobados, fecho as horas de hoje sem saudade e abotôo no peito as certezas que só tive hoje, despidas dos amanhãs e nua de qualquer trapo de ontem...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 14/07/2005
Código do texto: T34416
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