Todo cais é feito de saudades
SOZINHA... no absoluto e negro e estranho vazio de minha alma, agora silente, imóvel.
Olhando a barca de meu sonho partindo do porto, afastando-se lentamente, abrindo atrás de si o espaço angustiante entre ele e o cais.
TODO CAIS É FEITO DE SAUDADES.
E, dentro de mim, começa a formar-se com dolorosa doçura, imagens estonteantes entre sonho e realidade.
Dentro de mim começam a girar lembranças de outros tempos. Sentimentos de tristeza que me envolvem nas lembranças de alguém, que misteriosamente um dia fora meu.
Nossos momentos...tão nossos...tão fugazes e intensos, feitos de silêncio iluminado que revelou-se admiravelmente simbólico e pleno...até a dolorosa instabilidade e total incompreensibilidade...
TODA SAUDADE É FEITA DE RECORDAÇÕES.
Ver a barca do meu sonho partindo...o misterioso receio da solidão.
As entranhas contraem-se, arrepia-se a pele, a tristeza invade e o corpo sente a agonia.
Lenta agonia...morte lenta...
A inexplicável e sádica vontade de voltar a sentir tudo outra vez...
TODA SAUDADE É FEITA TAMBÉM DE DORES.
Ah ! já se fazem estanques meus cantos de amor...
Minhas sensações esgarçam-se como nevoas em noites frias...
Resta-me apenas a confiança inabalável de que tudo tenha um sentido belo e maior, que apenas ter partido o barco onde ele, meu amor, ia.
........................................
Apenas olho... sem ver.
As imagens constroem-se na imaginação submersa, no vazio de minha alma, imóvel, silente.
Olho do cais, pela janela fria da madrugada, A BARCA DE MEU SONHO PARTINDO...
TODO CAIS É FEITO DE SAUDADES