Pelo vale, um sonho adormecido
Quem pudera se eu fosse tua poesia
As papoilas coloridas que se rompem
No frescor dos teus prados a cada dia...
Ou quem sabe dos trigais ou gira-sóis.
Que dançam ao sabor do vento velhas melodias.
Se nos teus pensamentos
Eu pudesse habitar por um dia,
Eu diria que a correnteza desce veloz...
E que os peixes dourados (a alegria)
Tentam vencer os obstáculos,
O sentido contrário da nossa vida.
Num espetáculo de cores e malabarismo,
Quem os ensinou? A natureza, por sinal.
Pois a percepção os guia...
Mas o fogo de tua lareira
Musicaliza e reascende histórias
Das quais desconheço em parte...
E percebo, pelas labaredas que o fogo traça,
As lembranças em preto e branco de tuas fotografias...
Cujas cinzas custam a sepultar
O velho sabor amargo de tua história.
Porém, a tua memória persegue-te...
Tu corres pelos campos das Lezírias...
Nas tardes de primavera ao romper do dia.
Deitas na terra molhada em forma de cruz ...
Conversas com as nuvens que passeiam sobre tua cabeça
A mercê de sua alma e tu choras... num silêncio absoluto.
Somente as estrelas, espectadoras mudas,
Conseguem traduzir em vibração,
O que os seus lábios querem confessar.
Mas tuas mãos não conseguem esculpir,
Em folha de papel,
O que se passa em teu coração...
Ah se eu fosse a tua poesia...!