[O Quintal: Aonde Foram as minhas Esperanças?]

Não era um qualquer quintal,

mas sim, o quintal de me criar,

ou o quintal para o mundo revelar-se.

Por cima de minhas questões,

a lua pairava feito uma besta à solta,

e ao fundo do quintal enluarado,

folhagens escuras sorviam o meu silêncio -

eu era feito só de medos, mais nada.

No centro do quintal, ao fundo de um buraco,

aqueles vermes refervilhavam a matéria imunda;

ouvia-se o crepitar de bolhas que explodiam.

E a lua a pino, entrava pelos claros do telhado,

e fazia um tapete brilhante nas bolhas criadas pelos vermes.

Eu sabia, eu sabia: uma pequena parcela daquele tapete

era formada por descartadas esperanças minhas!

Aquele era sim o quintal de me criar,

era o quintal de descartar ingenuidades,

era o quintal onde eu podia contemplar a morte

a brilhar e fervilhar no fundo do buraco:

só precisava mesmo da lua para revelar-me

este mistério que eu sempre soube calar.

Ah, eu não ia mesmo criar um mundo...

mas eu queria saber, sim, queria saber

aonde foram as minhas esperanças?

E como as minhas asas não foram cortadas,

eu, um pássaro ansioso, perdi-me em sonhos,

e voei do meu quintal... Faz tempo, muito tempo!

Mas o quintal viaja no tempo, no espaço,

vai aonde eu for, está dentro de mim

como uma paisagem de espantos, de medos...

[Desterro, 29 de janeiro de 2012]

[Não quero dizer nada, só quero dizer... sem onde. Pois não há referências, sinais no mundo que me estanquem o choro]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 29/01/2012
Reeditado em 29/01/2012
Código do texto: T3468418
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