UM CONVITE. ASSIM, DE REPENTE
(poesia e prosa)
 
 
 
Aqui, na praça,
Ouvindo a canção
Que outros não ouvem,
Dança comigo?
Danço, sim, amigo
deixo-me levar
para onde quiseres
seremos um só,
sem assinaturas
ou compromisso,
melhor assim.
Danco, sim
porque dançar faz parte de mim,
uma seiva dançante
circula no salão interior
do meu ser.
Dança comigo?

Aqui na praça?
Danço, sim.

 
 
(do livro Água, Terra, Fogo e Ar)
 
 
 
Sempre tive sonhos e devaneios quando adolescente, de encontrar a cara-metade ideal. E ser ideal era principalmente, dançar bem.
 
Rodopiei por salões e encantei-me com orquestras, melodias, festas e pares. Mas o sonho povoou os salões e era tão forte e tão presente, tão decidido e teimoso, que ficou lá, nos clubes, nos coretos, nas praças, nas salas de casarões. Ficou lá grudado, em cada toalha de mesa, em cada cantinho de parede, refletido nos espelhos das “toilettes”, nos palcos, aderido ao linóleo do piso, no ar onde o som das notas permanece, fazendo parte. De tudo
E eu que pensava que estava comigo, não estava.
Não aconteceu.

 
Mas como o sonho é imortal e para todos, outras pessoas continuam sonhando. Um dia ele se materializa para um casal de dançarinos amantes e amados.
Quem sabe será uma mulher que gosta de “poesiar” e o homem, o dançarino sonhado?
Só que em outros salões, bailando outras melodias, em outro lugar...Quem sabe sobre uma duna acima da cidade?