Fragmento

Décadas? Anos? Meses, semanas ou dias?

Horas, talvez.

Talvez meu tempo não tenha existido.

Porque não o vi chegar e nem sair.

No entanto, à espera, fiquei estacionada numa estação desativada.

Trilhos sem manutenção e matos misturados as flores nativas.

Nenhum Sol.

Muitas águas turbulentas esconderam minha cegueira.

Não foi proposital.

Acontece que cansei.

Exaustei de esperar pelo clarão dos sonhos.

Como podem dizer que há aromas de flores,

gramas macias, asas livres de colibris?

Nas linhas em branco rabisquei figuras.

Muitos olhos, muitas mãos, bocas com sorrisos.

Era preciso ler o que não estava escrito.

E entender.

Optei por mudar a estação.

No momento, ventania de folhas do outono,

margaridas vermelhas de esperança,

filmes com muita ação.