O meu pai era pastor evangélico, um dos meus tios é padre. Um sobrinho é daimista, outro sobrinho é budista. Um dos meus filhos é espiríta, outro estuda todas as religiões e crenças...


Uma das características que mais me surpreende e me enternece no ser humano é a fé.
Só quem está no corredor da morte pode dizer com certeza que não se importa com o que os outros dizem ou pensam; eu estou nele. Sei que é um corredor entulhado de outros como eu. Estamos à espera, sem apelações, suspensões, sem julgamentos e nem questionamentos; o que me faz supor que sejamos culpados e sabemos muito bem do quê. Mas nem todos aceitam a brevidade e de alguma forma são dopados pela ilusão de um tempo infinitamente maior que o tempo que temos até a extinção dos nossos sonhos, nobres ou débeis, mas sonhos nossos, legitimamente construídos sobre vazios, mas nossos.
Não nos foi dado sequer a dignidade de saber como será a execução. Apenas estamos aqui e ironicamente só penso que realmente a fila anda!
A fé é um mistério que NÃO quero desvendar. Esta fé que não alcanço um entendimento, não é aquela imposta quando éramos crianças, aquela é baseada em puro terrorismo. A fé misteriosa para mim é aquela que nasce, acontece depois, quando nos tornamos adultos e com capacidade de raciocínio parcial; não acredito que tenhamos uma racionalidade total, plena.
A fé dá maior liga à humanidade, mas e a fila? A fila anda.