UMA VIAJEM AO DESCONHECIDO

UMA VIAJEM AO DESCONHECIDO

Eram apenas lembranças em minha mente, quando passei por uma experiência em minha vida, que nunca mais esqueci, e hoje, anos após , resolvi passar aos meus leitores.

Estávamos no mês de abril do ano de 1.975, e trabalhava pela Prefeitura de São José dos Campos, adido ao Sistema Único de Saúde (SUS), da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, e neste dia, conduzia a Secretária Regional de Saúde em uma inspeção de rotina à Santa Casa de Misericórdia de Paraíbuna, São Paulo, acompanhava-a, uma equipe de médicos e médicas, e foi assim que tudo começou...

Estacionei a viatura, à sombra de umas arvores, no pátio da Prefeitura Municipal, e estava lendo um jornal, enquanto aguardava o pessoal a quem transportava, tendo tempo suficiente para um descanso, pois inspeções deste tipo, normalmente eram um pouco demoradas. Com as portas abertas da viatura, e à sombra, relaxei um pouco e estava em minha leitura, o que fiz durante quinze a vinte minutos, não mais, quando percebi que pequenas gotículas pingavam por sobre o jornal.

Percebi serem de minha fronte, em rápida passagem de mão, e , ao avistar um gari, que trabalhava no pátio, perguntei de como chegar ao atendimento da Santa Casa, para onde me conduzi, sem antes avisar ao servidor que estaria na Santa Casa sendo atendido, se por mim perguntassem.

Ao chegar ao local de atendimento, mal consegui acessar a recepção, vindo a desmaiar no Hall de entrada, e logo atendido por plantonistas que me deram os primeiros atendimentos. Fui logo socorrido, mas constatado que minha pressão arterial estava baixa demais, chegando à assustadores 6 por 4, o que me fez ser transferido á cidade de São José dos Campos e internado na Unidade de Terapia Intensiva, lá permanecendo por volta de dezesseis dias, estando entre a vida e a morte, em estado comatoso.

Diria que esta foi uma pequena parte de meu drama, mas estava ainda para acontecer coisas...

Lembro-me apenas de que estava chegando ao atendimento na Santa Casa....

Quando me dei a perceber, me vi em um local muito bonito, amplo, e vestia-me com uma bata branca, onde se chegou a mim, um senhor de barbas grandes e brancas, me chamando pelo meu nome e convidando-me a acompanhá-lo em uma caminhada, o que aquiesci, sem constrangimentos. Pelo mesmo senhor, fui deixado em uma espécie de biblioteca, pude perceber pela enorme quantidade de livros, e por diversas pessoas que assim como eu, igualmente vestidos, tinham diante de si, livro igual ao que recebi, das mãos de um jovem, que apenas perguntou-me o nome, e entregando um volumoso Livro.

Acomodei-me em uma poltrona e abri o livro, mas ao invés de letras, surge-me à vista, como um filme, o nascimento de uma criança, onde reconheci a parturiente, como minha mãe, a via clara e nítida, compreendi de imediato o que representava aquele volume, e fiquei assustado, tentando entender onde estava e porque ali me encontrava.

Nem acabara de fechar o livro, eis que me surge aquele senhor, a quem já me afeiçoara, e o mesmo em voz calma e pausadamente, começar a me explicar o que aconteçera, e as conseqüências de minha estadia ali, o porquê, e como isto se dera...

No meu atendimento, transporte de uma cidade para outra, minha pressão arterial tivera um momento de igualdade, chegando ao mínimo na escala da vida, e entrei em óbito por alguns momentos, dentro ainda da ambulância que me conduzia a São José dos Campos, e onde já chegara entubado e com poucas chances de sobrevivência.

Não fosse a obstinação do corpo clínico da U.T.I. de plantão, estaria finda e realizada minha passagem pela vida, e não estaria aqui descrevendo o que me aconteceu se não o amor pela profissão e profissionalismo de algumas pessoas.

Permaneci assim, sendo tratado, li parte de minha vida, assistindo a um filme onde rápida passagem por minha infância, me trazia alegres lembranças de amigos cuja lembrança hoje apagada não mais os tinha, fatos de extrema intimidade, coisas e pessoas que não mais conhecia, me eram passadas pelas imagens que assistia, lendo o “Livro de Minha Vida,” coisas de família, fatos corriqueiros que guardava na lembrança.

Não sei por quanto tempo ali permaneci, não me importava com o tempo, não me importava com o estar ou não sendo assistido por especialistas, nada mais me preocupava, mas o bom senhor, interrompe mais uma vez estas passagens de minha mente, e me chamando pelo nome, pede que o acompanhe, desta feita a um prédio, onde as paredes, azuis claras, refletiam muita paz, onde pessoas e vestiam de um verde claro, alguns com gorros na cabeça, outros apenas de camisolões brancos, como o que eu usava no momento.

Não me dando conta, fomos caminhando, e perguntei ao bom homem, onde estava me levando, e a resposta, dele foi vaga, que de mim dependeria, o ficar ou ir embora.

Vi-me em uma sala envidraçada, em um corredor que a circundava, tendo uma proteção de vidros, onde reconheci o interior de uma sala de cirurgia. No centro, estando deitado em uma maca cirúrgica, vi-me, desacordado, e minha sensação foi a de pânico, pois me via, ao mesmo tempo de estar fora de meu corpo, uma sensação nunca sentida, então uma voz, alertando-me de ficar, ou ir...e minha decisão foi a de ir de encontro ao meu corpo que na maca se encontrava...Acordei aos berros, com a respiração ofegante e sobressaltado, tendo ao meu redor, a equipe médica que me atendia no momento da minha visão anterior...retornara a vida...Tres dias após de repouso, recebia alta da U.T.I. de UMA VIAJEM AO DESCONHECIDO...

Julio Piovesan

12-03-2012