PERMANÊNCIA

Eu o deixo ali,

jardim antigo que insisto em cultivar.

À distância, mergulho em suas teias verdes,

sementes e folhas mortas.

Deixo-o no canto das minhas lembranças

em meio aos verbos que arrancou de minha boca,

ecos de feroz ternura.

Deixo-o em meu peito,

espinho e bálsamo dessas feridas vermelhas

abrindo-se em velas de mal navegar.

Eu o deixo, vela de promessa em altar

do deus perverso dos solitários

e suas mil mãos de lembrar.

Deus de nunca se contentar.

Deixo-o trancado no escuro,

nos armários onde escondo

meus vestidos de amar.

Mas você volta sempre,

assombrando meus olhos,

perfume derramado em meus vasos nus.

Volta sempre, o barco de me levar.

Saramar
Enviado por Saramar em 27/01/2007
Reeditado em 27/01/2007
Código do texto: T360739