Pão dos anjos
 
 
O abrir e fechar nas asas das aves é o arroz com feijão dos poetas; quer saber mais sobre o passo a passo do pão nosso de cada dia?!
 
Como poetas formam (suas) percepções poéticas? De que valem formigas perto de construções musicais? Na areia da praia, as marcas dos pés são apagadas pela língua do mar que lambe os contornos, partituras são levadas ao vento, na maresia.
 
Será que todo poeta, beija bem?! Hoje em dia palavras bem tratadas estão se tornando raridade. O que tem de poesia na maioria das músicas atuais? As boas letras andam tão fora de moda, tanto quanto os movimentos espontâneos de: educação, honestidade e bondade... que me faz chegar a conclusão que em relação a estes pontos é preferível ser cafona, (para quem não sabe o que é cafona, tem a ver com o sentido contrário do barbarismo: “up”)
 
Mais um meio dia, gasto uns minutinhos aprofundando pensamentos: ora estou na concha do ermitão, ora nos fios de cabelos das moças, ora no sal das ondas...
 
Num fim de semana destes, revendo um velho filme, me intrigou uma das frases: - “Você é uma doença e seu sou a cura.” 
Penso que a fala da personagem seja ingênua, hilária e equivocada! Afinal, pessoas não são doentes podem “estar”, e pessoas não tem o poder de curar umas às outras. Há pessoas se “curam” sozinhas (quando querem e de vez em quando, quando podem), experimente dar um bisturi para algum Superman frente a frente a um corpo com metástases. 
 
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Ninguém põe em pauta a palavra dor a toa, (só se for poeta) quando dói não recordar de um rosto familiar que já se foi, ah! o que também dói? ...ser posto de canto, dói o sentimento de ter sido injustiçado... Um dia me perguntaram: Como o ser humano consegue apagar bons momentos da memória?! 
 
Defina: ”bom momento.” Bons momentos, são presentes e presentes bons são àqueles que são usados até gastar. Viro o pescoço para trás, e recordo que o passado a cada dia fica mais distante!
 
Sorrio, para os espíritos pobres, que tentam derrubar aqueles que eles pensam que são mais fracos. A escolha da arma nem sempre é a correta.
 
Esse sorriso é saudável?! Neste instante, se eu olhar no espelho, como estou sendo? Uma criança a brincar, no mínimo irônica, e no máximo, talvez um pouco realista... é como se eu tivesse pulado numa piscina vestida de ira, mergulhado no fel, e voltado a tona junto ao amargo do (ah! já fui muito mais pesada do que muitos possam imaginar). Mau humor pesa... insatisfação pesa... descontrole pesa... ah! também já fui tão dura quanto as pedras mais sujas da orla). Hoje, encontro-me despida. 
 
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Voltando a praia, noto, uma ou outra casa daquelas antiiigas com as suas janelas fechadas, (tal qual um súbito luto). 
 
Sabe o que faço quando tudo parece estar perdido? Será que me comparo a quem não consegue ver o azul do céu?! Não enxergar, pouco adianta a ninguém. Ver o azul, é diferente de estar azul. 
 
As portas do coração somente abrem para quem quiser ser realimentado... e a poesia tem o dom do abastecimento, a Poesia é uma espécie de maná (apesar de que nem todos lhe dão valor) agradeço ter nascido formiga... neste instante eu bem que gostaria de ser nota musical e poder voar (tenho esperança que algumas folhinhas verdes, levantem vôos por aí!). E se anoiteço, acordo sem nenhuma daquelas velhas penas... me viro em faísca na aurora como quem se mistura ...as luzes do dia.
 
Rosangela Aliberti
Atibaia, 22 de abril de 2012.
 
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Sting - Roxane (Live2010/Berlim)
http://www.youtube.com/watch?v=n_3bf0XzZz0