O Eu, Indisponível
Não escrevo para que me leiam, procuro exercitar minha condição de fluência para me convencer que meu ser inseparável, é mais inteligente que eu e é capaz de navegar por minha insanidade arrancando dela toda a lucidez que eu preciso para viver.
É como achar certo nem procurar, ou procurar nem achar.
É buscar motivos para odiar a falta de amor.
É mentir verdadeiramente ao afagar o medo.
É contradizer a sensatez, abraçando quem fere.
Receber o que nem me foi dado e doar o que ainda não tenho.
Repudiar conluios e pactos de moralidade que não estarão de pé até a próxima virada do poder.
Desestabilizar as bases sólidas da fraqueza, ratificando apoio ao tênue caráter dos fortes.
Já errei muito ao promover embusteiros a sábios, aproveitadores a irmãos, paixões libertinas a amores eternos.
Como todo mundo, eu já julguei e fui julgado, condenei cordeiros a banquetes vorazes, aplaquei sorrisos, caminhei na penumbra e imergi nas águas da incoerência.
Não é o momento de contrição, não quero para mim perdão prévio para atos que ainda nem pratiquei e que talvez o faça, quero sim, tempo, espaço e discernimento necessários para merecê-lo.
Du Valle