Maré da solidão

"Um dia eu fico na praia. Mas fui verdadeira. Assumi minhas curtas verdades; assumi as mentiras compridíssimas; assumi fantasias e sonhos -- como sonhei e como sonho ainda! Principalmente assumi o meu medo..."

As tais palavras de Lygia Fagundes Telles particularmente hoje me retratam, me leem, são minha radiografia, total, me emolduram, perduram em meus conceitos, repercutem, discutem. Olho fixamente o mar e me sinto dele um ser afim, possivelmente pela falta de estabilidade da maré do desejo. Tenho pavor de que eu esteja agora na segurança da areia, mas que uma onda me puxe e me furte tal estabilidade, que sei que é puramente enganosa; sinto isso, intuo.

Exalo verdades por todos os poros e o meu pavor assusta os peixes, as águas-vivas, os ouriços, qualquer ser que movimente-se. Nenhum deles ousa pulsar mais do que meu coração. Sem chance de existir disputa, então...

O jeito é ir tentando, aos poucos, driblar o que restou do meu pavor, depois de tantos naufrágios, e, de quebra, catar algumas conchas para fazer um ornamento milagroso capaz de me vestir e de calar tudo isso que sinto e que por vezes até minto, para mim. Solidão que dói quando chega, solidão que dói quando parte. E eu? Sobrevivo a cada uma delas...

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 29/04/2012
Código do texto: T3639958
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