CERTIDÃO DE NASCIMENTO
CERTIDÃO DE NASCIMENTO "ENTRE O GRANITO E O XISTO"
Entre o granito e o xisto, aí habito, aí nasci, aí cresci. Entre o granito e o xisto brinquei. Entre o granito e o xisto como um arbusto, estendi raízes e sorvi a seiva. Entre o granito e o xisto ergui a fronte e aspirei aromas e paisagens.
Bebi das minas e regatos, colhi flores silvestres e doces frutos, moldei com terra e água ideias infantis, ouvi os grilos e guardei-lhes em caixinhas ternamente o som que vela as noites em verão quente.
Gelei as mãos nas neves serranas de ruelas e caminhos, e aquecias nas lousas dos vinhedos, onde o xisto guarda calor do sol pela madrugada. Abriguei-me em cavernas e conquistei castelos de granito.
Depois voei imberbe com asas débeis de saudade e pairei absorto sobre as serras e vales destas terras onde se casam granito e xisto, ora cobertos pelo manto vegetal, ora exibindo a sua nudez monumental, em barrocos de formas parabólica ou rochas cinzentas e negras de folhados xistos.
Nessa lousa negra eu exprimi na primária idade, como o homem de Foz Côa fez no xisto a letra o verbo e a forma.
No granito bailei e desfolhei o milho. À sombra de penedos merendei fruta, pão e vinho e bebi água gélida nascente.
Colhi a malvasia em terra quente e fiz magustos nos frios outonais.
Entre o granito e o xisto existo