À espera da criança

Hoje eu despertei criança, como há tanto tempo não despertava! Despertei rindo, a despeito da canseira. Acordei querendo tomar sol no quintal, com desejo de escutar músicas alegres, de ler livros do Pedro Bandeira e ler outra vez Pollyanna. Despertei querendo fotografar todas as florzinhas que ocupam o meu jardim e que meu pai cultiva com tanto carinho, assistir "Procurando Nemo" e "Happy Feet" com minha mãe e com as minhas primas, brincar de "pêra, uva, maçã e salada mista"...

Hoje eu acordei com vontade de usar os sapatos da minha mãe, bem maiores do que os meus pés, de colocar um chapéu grande de dama, de usar aquele batom vermelho vibrante, de colocar aquele imenso colar de pérolas elegante que minha avó usava (e nem me preocupar se falarão que essa moda já passou há tempos!).

Hoje eu acordei com vontade de simular que o catchup que borrifou no meu braço era sangue (e o que é melhor: nem doía!), senti vontade de pôr uma rosa detrás da orelha, de dançar tango, de saltar nas poças que a chuva concebera, de pular amarelinha até alcançar o "céu".

Hoje eu reservei meus lápis de cores mais novos, bastante folha em branco para desenhar e depois colorir, mas... a realidade, de modo infeliz, interrompeu esse meu lado, me pegando pela orelha e me pondo em contato com uma pilha muito grande de diários para acabar de fechar, com completa urgência, para ONTEM, sem falta! Pensa que ainda assim a criança ocultou-se? Não. Ela me expressou em sussurros, bem baixinho, que retorna nas férias, que estão próximas e iniciam há dois meses, e disse que volta munida de todos os brinquedos e planoss do universo, sem nenhuma sombra de fadiga. Vou esperar por ela. Ah se vou! Vale a pena. Sempre vale.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 12/05/2012
Código do texto: T3664747
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