Os  gladiadores   da escrita
 




                                     Olha,  gente, escrever  tem hora que é fácil e tem hora que é difícil pra “burro”.  Tem dia que queremos escrever e não sai absolutamente nada. Ao passo que em outros dias, não queremos escrever, por mera preguiça  e a crônica, teimosa, tá todinha na nossa  cabeça.
                                    Não sei se acontece com os outros, mas às vezes escrevemos como um verdadeiro escritor, publicamos a nossa “obra prima” exultantes. E ficamos à espreita, esperando  os sutis comentários que por certa virão. Decepção:  o leitor nem dá bola, não viu nada naquele texto. Noutro dia,  publicamos novo texto, desta vez, até com certa  vergonha, pois aos nossos olhos “aquilo” tá uma verdadeira droga. E vem  a surpresa:  a turma nos põe nas alturas, enxergam  detalhes e sutilezas que nem desconfiávamos  e muito menos havíamos pensado. 
                                   Até parece que dependemos muito dos nossos humores de momento, nunca estamos firmemente seguros nos nossos passos, cambaleamos nas nossas ideias e quantas vezes nos agarramos a qualquer pedregulho da moda, só para não cair no precipício  do  desagrado dos outros.
                                   Na verdade, é o que quero dizer hoje, numa conversa informal, íntima com o leitor,  escrevemos  para pegar pela mão  o pensamento que nos faz subir montanhas e descer abismos em fração de segundos. E o pensamento é igualzinho o mar, não tem “cabelo”, não conseguimos agarrá-lo. Lutamos com ele e acabamos sempre vencidos. É um cometa que passa célere como uma flecha.
                                  Penso que escrever  é  exatamente esse  esforço  inaudito  para segurar o pensamento pela cauda, e  o que escrevemos é nada mais nada menos que o  congelamento de um  pedaço do pensamento.  
                                E usamos duas táticas: ou escrevemos poema ou prosa. O poema é uma longa interjeição, um grito , como  já disse o poeta.  Eu diria que  por isso  mesmo    é emoção pura .  O prosador talvez seja mais ingênuo, usa o  seu lado racional,  na sua luta com a assombração do mundo. Vai analisando, refuta, concorda, negaceia, abafa seu grito, procurando despistar o monstro. E a sua luta, fazendo tantas concessões, acaba sendo  corpo a corpo. Os dois se engalfinham, se agarram, chutam e são chutados. Sangram.  E a assombração sempre vence, nem que seja por pontos.
                             Já o poeta e a poetisa não admitem essa luta grosseira e não  se  deixam pegar de jeito nenhum,   não dão esse gostinho de serem agarrados pelo monstro.   Evitam a todo custo a luta corporal, mesmo porque se situam, estrategicamente, em outra dimensão. E vencem o monstro, que é primitivo, que é da terra e se rasteja no chão.                                                    
                              O poeta alça o seu voo e com o seu grito e  canto da alma abre as janelas do infinito, onde as assombrações do mundo deixam de existir.
 
 
                            
  
                                  
                                  
                                  Nota:  Este texto é uma republicação. Apenas 10 recantistas leram o texto, na época em que foi publicado. 
                                    Peço desculpas para a minoria que já leu.