Clamores

Insônia, escuro, silêncio.

Irritação, escuro silêncio.

Cansaço escuro, silêncio!

Vazio, escuro, silêncio.

Ouço vozes...

Dezenas, centenas, são milhares.

Horríveis vozes interiores...

A ninguém mais incomodam, perturbam,

Só a mim, só a mim.

Nesta infindável noite sem Lua,

Quero parar de pensar, parar de sentir.

Quero apenas viver, sem doer, sem sangrar

Será este um pedido tão difícil?

Há tantas pessoas cuja vida é como um sorvete:

Fresco, suave, delicioso. Porque não eu?

Por que tenho de ouvir essas vozes???

E são tantas vozes? Vozes de algozes

Vozes de pesar, de profetas, de professores...

Vozes julgadoras, misericordiosas, misteriosas...

Vozes, irritantes vozes.

Questionam, condenam, absolvem, condenam.

Começa, acaba e recomeça, não tem fim...

E o escuro? E a dor?

Agora dói, também.

Por trás da dor, lembranças.

Por trás delas, promessas não cumpridas,

Inacabadas, interrompidas, suspensas,

E mais uma vez vem as vozes.

E me perguntam agora porquê.

Não sei lhes responder.

Mas sinto vergonha, queria me esconder

Melhor, queria que não me vissem ou percebessem

Queria eu não as ouvi.

Queria que não me descobrissem.

Para não sentir remorso.

Para não ter de me explicar.

Para continuar aqui, parada, segura.

Embora saiba que as ouço

Justamente porque estou aqui, parada.

Sinto que a inação me levou a ouví-las.

A inércia me levou a ter de escutá-las.

E o preço agora será sentí-las me inquirindo

Esperando de mim posições, atitudes...

Se eu rezar, passa?

Talvez uma prece pequena, mas sincera...?

Talvez. Mas, de repente, vem a certeza

Que se resolvesse parar de NADA fazer,

Sinto que passaria...

Creio ser esse o remédio para minha insônia.

Arsenia Rodrigues
Enviado por Arsenia Rodrigues em 04/02/2007
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T368880
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