VALERAM OS ANOS!
Penso que valeram as máculas, as nódoas, as mágoas
Das veredas que olvidei, das camisas que vesti, lembro-me.
Sei, minhas incólumes maneiras de ser, que sofri!
Mas, sofrimento requer assaz sentimento
Traz rejuvenecimento da ressequida alma.
E sabes:
Alma de poeta é imortal... Será?
Ao menos, infinita. E disso, tenho ácida certeza.
Pudera condenar os anos a arfarem em conluio
Quisera contemplar os amanheceres sublimados
Penso nas prestimadas rosas do porão
Nas azinhagas percorridas e nos passos de camelo.
Não tenho de me queixar!
Tenho roxas e pardas rochas a rolar - com limo.
Pudera, nesta vida, ter menos riqueza de espírito
Mais ojerizas e menos avenidas ao inusitado
Ou pudera ingerir mais manhãs, com mel em cálice.
Pudera, quisera, devera; ora, sou o hoje amanhecido!
Turvo, parvo, cálido e límpido
Sou a ambiguidade e uma nação dentro de um peito
Asco nesse meu jeito.
O que se há de fazer?
Sou essência, sou muitos séculos de versos
E os anos meus caronas, tais gôndolas
Minhas sucumbências e minha vida.
Quando me deitarem a mortalha, haverei de estar mansinho.
Sei que sorri por anos, rangi por outros tantos
Pintei aquarelas, rabisquei-as!
Movi meus ponteiros, encavalei as horas
Gozei pelos átimos despidos e os encurralei.
Fui chocalho, fui menino, fui pigarro
Contudo, porquanto continuar versando, estarei semeando
E conquanto a dor não passe - e não há de passar - estarei vivendo.
Obrigado ao anos da minha vida!