A dor de Maria Flor

Sentado naquele chão você me contou como me encontrou.

Veio com aquela história de jornal e fila de pão

E eu simplesmente resolvi comer o pão, todo o seu miolo e toda sua casca. Comecei a ler a matéria principal como se fosse poesia.

Se os nossos dedos fossem mais sinceros teriam desobedecido às leis das conveniências.

Ainda acho que aquela flor que você me ofereceu não tinha espinhos. Fiquei esperando a sua audácia em retirá-los.

Eu queria ter me sangrado. Sujado cada flor do meu vestido.

Se lhe alivia eu confesso: me sangrei após um terceiro olhar. Foi bem no dia que em peguei a mesma fila do pão (quentinho)mas eu vi a flor sangrando em outra mão. Tentei chorar, mas sangrei... Alguém furou a fila? A moça de vestido verde?

"Minhas mãos estavam limpas, mas os meus olhos... O mundo todo é vermelho se você é o horizonte."

Sentados novamente em um outro chão, comecei a lhe contar tudo.

Nem olhos, nem bocas...

Nem pão, nem flor.

Uma caixa de fita amarela eu abri e tudo dela lhe ofereci.

A fita ficou linda no cabelo da bela moça de vestido verde.

A caixa não sei onde está.

A fita vermelha combina com a minha pele

A flor, agora sem espinhos, você me ofereceu.

Inútil flor, inútil flor de papel que se desmanchou em água salobra.

Sangrou? Cheirou? Comeu? Viveu?

Sangrei, cheirei, comi e morri...

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 08/02/2007
Reeditado em 08/02/2007
Código do texto: T374245