A CONSCIÊNCIA DO AMOR DEFINITIVO

A CONSCIÊNCIA DO AMOR DEFINITIVO

Para Maria Nilza

Outrora te procurei como um sonâmbulo.

Não tinhas ainda esse perfil diáfano, nem forma, nem emoção.

Eras apenas um sonho a povoar minhas horas: sem esboço, sem o contorno do corpo, sem curvas e ancas.

Se isto me bastava, não posso afirmar!

Andava à tua procura com as mãos ansiosas e tateantes, com a emoção aflorando na epiderme, os pelos eriçados, uma imensa vontade de amar.

Não o amor banal do corpo e da pele, mas o amor que avança sobre a grandeza do espírito e se instaura soberano pelos valores que protege.

Trazia meus olhos carregados de uma imensa ternura.

Algumas vezes arrisquei entregar-me a outras que ocasionalmente passavam, na esperança de que fosses tu.

Quando me enganei!

E tu estavas em algum lugar. Não andavas escondida, anônima, perdida. Apenas ausente, dessa ausência que a gente sente pela intuição. Ausente, sim, do contato das minhas mãos, de minha palavra amiga, do meu desejo imediato, de minha imensa ternura.

As que vieram não tinham esse olhar transparente, nem essa voz suave e límpida, essa ingenuidade, a certeza das coisas, os paradoxos, os pés plantados no chão como sonhos alados segurando as ilusões.

Andei te procurando como o ouvido mergulhado no silêncio, como se quisesse distinguir, no meio de tantas vozes, o timbre inconfundível de tua fala.

Surgiste de repente, um dia!

Era uma noite comum, dessas onde as vozes humanas se diluem nas banalidades das ocasiões festivas.

Não consegui ouvir mais nenhuma voz.

Só a tua. Teu riso, os olhos verdes inquietos em busca de respostas para aquela singular emoção.

E para completar a energia, teu dedos tocando meu corpo, sutilmente colados para uma foto que se eterniza como flagrante imortal de um momento sem data.

Como ter certeza de que eras tu chegando na minha vida?

Foste arriando a montaria, desencilhando o amor, numa entrega sem cálculo, sem indagações, sem nada querer, sem limites ou condição.

No entanto, ambos estávamos atados pela vida. Tu e eu, eu e tu, como personagens vivos de romances mal sucedidos.

Quando percebemos, estávamos embebidos, enlaçados, únicos na obsessão de reunir as fantasias do sonho às emoções dos fugazes momentos que cautelosamente construímos para nós.