tessitura para 17 de julho
Disse-me que isso era exterior. Assustei-me,
ninguém está preparado para as vertigens da pele.
Aventurei-me um pouco mais, perguntei-lhe de que era feito.
- Se soubesse - repondeu sem reposta. Eu teria dito superfície para garantir o contato com o dentro. Ele disse exterior. Eu pergunto pela fonte e a memória, ele responde:
- Fossem essas as palavras logo haveriam outras. Roçou os dedos no meu pescoço e deixei vibrar as mensagens sem destino.
Como não saber que fósforo também é luz?
- Que nome dá ao corpo senão exterior? – perguntou-me sem cuidado.
Estava tecendo os fios: o texto.
Poderia dizer que se eu me cubro com um véu já não sou mais exterior, mas seria fugir, digo: o véu não se toca, fio a fio se percorre,
sem sonhos.
- O texto – repondi.
- O texto é exterior ou o corpo é texto? - perguntou.
- Escrever é desvelar, é tirar o véu, é o corpo - comentei. E ele:
- Quem pode ver veria o tecido seduzindo a carne, o jogo do véu com o rosto, que nunca se (des)revela, que sempre é fora.
- E o corpo? - repliquei.
- O corpo é isso, perder os lábios num beijo.
- E se abro a porta para me salvar e o que há é abismo? – precisava saber.
- Eu sei lá que nome tem isso ... amor – arriscou.
E como eu não dissera nada, caminhou até o mar e lançou o corpo forte e nu nas águas galegas. Parecia um poema, o mais belo.