tessitura para 17 de julho

Disse-me que isso era exterior. Assustei-me,

ninguém está preparado para as vertigens da pele.

Aventurei-me um pouco mais, perguntei-lhe de que era feito.

- Se soubesse - repondeu sem reposta. Eu teria dito superfície para garantir o contato com o dentro. Ele disse exterior. Eu pergunto pela fonte e a memória, ele responde:

- Fossem essas as palavras logo haveriam outras. Roçou os dedos no meu pescoço e deixei vibrar as mensagens sem destino.

Como não saber que fósforo também é luz?

- Que nome dá ao corpo senão exterior? – perguntou-me sem cuidado.

Estava tecendo os fios: o texto.

Poderia dizer que se eu me cubro com um véu já não sou mais exterior, mas seria fugir, digo: o véu não se toca, fio a fio se percorre,

sem sonhos.

- O texto – repondi.

- O texto é exterior ou o corpo é texto? - perguntou.

- Escrever é desvelar, é tirar o véu, é o corpo - comentei. E ele:

- Quem pode ver veria o tecido seduzindo a carne, o jogo do véu com o rosto, que nunca se (des)revela, que sempre é fora.

- E o corpo? - repliquei.

- O corpo é isso, perder os lábios num beijo.

- E se abro a porta para me salvar e o que há é abismo? – precisava saber.

- Eu sei lá que nome tem isso ... amor – arriscou.

E como eu não dissera nada, caminhou até o mar e lançou o corpo forte e nu nas águas galegas. Parecia um poema, o mais belo.

Carla Carbatti
Enviado por Carla Carbatti em 21/07/2012
Reeditado em 01/12/2013
Código do texto: T3789944
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.