Centelha
É do ouro laranja que é feita minha armadura. Forjada em lava e embebida na luz da onipotência, minha espada reflete as faíscas da minha força. Sou claro e negro. Reluzo, crepito, brilho no escuro, sou incandescente, magistralmente esculpido. Sou filho de divindade, oriundo da ira e da perfeição faço arder o que em mim é pleno. Tracei caminho no breu e extingui a evidência da treva. Sou obsceno, sacral, sou mítico. Sou quimicamente volátil e anatomicamente performático, quase circense. Adorno meus pés de cinza, torro, incendeio. Vivo na fé do lacaio e no rastro da bala... Sou manifestado e manifesto. Sou tudo e sou só. Me criei solitário e me fiz devastador, abrasador e magnífico. Me transformei num símbolo, sou mártir e porta bandeira da minha crença. Sou próximo, vizinho, perigosamente atraente.
Desejo o ar, aspiro a madeira, sou fuligem. Banalizei meus métodos, triturei meus inimigos. Crepitei. Sequei nascente, matei espíritos, inclusive o meu... Sou muito hoje, mas tudo o que sou foram aqueles que me desafiaram que fizeram de mim. Sou tamanho imensurável.
Quilotons, megatons, milimetricamente manhoso e intrínseco. Esculpi o êxtase, matei os micros e glorifiquei os macros. Estou em olhos de reprimidos e no canto dos povos sulistas. Sou realidade no deserto e utopia no oceano... Vulcanizam-se e evaporam-se. Fornicação e deleite são codinomes de meus propósitos. Vivo no mundo dos vivos com o peso dos mortos na minha fumaça. Vejo restos, pedaços de mim que caem, propagam-se, além e além de se propagarem, destroem. Sou o fim do mundo e o avanço, o porvir. Venho e volto, danço aos olhos, em chamas, é óbvio...
Se sou enorme, espalho-me, lanço-me no todo, se sou singelo, despedaço-me, fatio-me em lamelas, viro grãos de cor de nada. Sou incipiente, apago-me por nada.
Sou o triunfo e o fado de quem me guia. Sou morte e nascer. Sou simplesmente fogo.