FLOR CAÍDA

"Tá lá o corpo estendido no chão...

E um silêncio servindo de amém."

João Bosco

A alma criança de João Hélio está em outras esferas.

Só seu corpinho frágil ficou ali.

Mas não ficou sozinho,

não ficará nunca mais sozinho.

Junto ao menino, agora anjo,

junto às lágrimas dos policiais

e ao pranto de bicho para sempre ferido de seus pais e irmã,

há muito mais.

Há o medo, o nosso terrível medo vestido de blindagens e grades.

Há a certeza feroz da impotência diante dos monstros

em sanguinário carnaval que nunca tem quarta-feira de cinzas.

Há a vergonha de viver em um país de covardes

também integrantes do eterno carnaval brasileiro,

onde usam a fantasia e a máscara imunda do poder,

qualquer poder,

para defender demônios,

assassinos de nossas crianças.

As crianças de verdade, como João Hélio,

ficam no chão,

acompanhadas dos mais tristes sentimentos.

Os monstros vão para os braços dos covardes

e, em aliança infeliz, cantam loas à impunidade.

Covardes, são todos covardes.

E não adiantam passeatazinhas

com pombinhas brancas.

Estas só servem para apagar

mais rapidamente

as marcas de sangue inocente no chão

e desanuviar consciências rasas,

apressadas, já vendo Momo.

São outro desfile de covardes

em carnaval impotente e mentiroso

de quem não se importa

com nenhum João

com nenhuma Maria.

Saramar
Enviado por Saramar em 15/02/2007
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