Tua Graça

Gabriel. Assim vou chamá-lo.

Mas, poderia chamar-lhe esperança minha numa noite, assim, vazia.

Ou surpresa agradável esquecida na última gaveta da cômoda que não mais se usa.

Ou presente de aniversário antecipado.

Ou qualquer coisa boa que lhe possa ser associada.

Ou qualquer outro nome lindo com significado poético e profundo.

Contudo, vou chamá-lo assim: Gabriel.

Gabriel que é anjo, isso é o mais óbvio, e nem por isso menos belo.

Só o que quero é chamá-lo para perto, de volta ao começo dos nossos primeiros olhar e sorriso, roçar sua asa esquerda grande e macia, esperta e desejosa.

Gabriel que é mensageiro, e isso faz sentido, mas nem por isso é obvio.

Nem concepção, nem consumação – nem decepção. Só o sinal de que tudo continua, que tudo segue, que nada nunca pára e tudo tende para todos os lados e direções, e sentidos.

Sentidos são tudo nessas horas em que o tempo não espera, quando as condições são escassas, o momento é impróprio e as palavras nulas.

Sentidos são milagres do corpo, da mente, da hora presente (para mim, sempre será 07:25 PM).

Gabriel que é homem e ali, sentado, vi menino querendo brincar comigo, e me senti velho demais para acompanhá-lo, e me senti estúpido por não ter pensado rápido numa forma de prendê-lo à minha dimensão, e mesmo assim, o destino foi generoso comigo, e o prendi.

Os céus chamavam teu nome dianteiro e eu não pude escutá-lo por não reconhecê-lo. Eu não deixaria você partir se eu o soubesse por inteiro... Tudo o que eu sabia era a parte que eu não sabia: o cheiro do teu cabelo deixado no meu travesseiro.

Mas, minhas mãos curtas não alcançavam o prêmio: tua auréola brilhante - meu maior desejo.

Aceitei teus bem-vindos brindes num só lampejo: cada letra digitada, cada nota dedilhada, cada suspiro envergonhado, cada riso provocado e espontâneo – tudo seu, um galanteio. E mesmo que não fossem tão brilhantes como teu aro celeste, tu me deste, de bom grado, de coração escancarado, tu vieste pro meu lado - terreno, profano e cheio de pecado – e me fez purificado pra te amar.

Ainda que eu descubra que esta não é a tua verdadeira graça, vou chamá-lo assim, Gabriel. E se um dia eu não lhe disser adeus, é só porque um anjo cruzou meu caminho e não quis se despedir também.

13 de Agosto de 2012

Teco Sodré
Enviado por Teco Sodré em 13/08/2012
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