Coisas simples

Salta-me falar de coisas que elevam todo o ser

um elenco de belas, singelas, transparentes alegrias,

coisas que um dia provocaram risadas infantis

hoje quiçá dormentes, sedadas ao alvedrio adulto da vida,

inibidas em toda a plenitude da poesia a descansar...

Salta-me falar da primeira semente que plantamos,

da florzinha corriqueira do cerrado, brotando sem se regar,

o abrir arredondado das duas folhas primas e o brilho da visão

da visão da beleza da vida com os olhos de quem planta

nunca qual a implacável mão adulta de quem arranca...

Salta-me falar da magia de correr descalço por aí

sem vergonha da velha e encardida veste, sem espelhos pra cobrar

do ridículo apego às rendas mitigado pela leveza dos trapos,

do contato com a terra com a sensibilidade de quem caminha,

nunca qual a convicção adulta de que imundo possa ser o chão...

Salta-me falar das missas domingueiras, do delicioso amém

e pedir uma singela e saborosa guloseima na saída

de segurar a mão da mãe com a confiança de quem ama

Sentir a felicidade de ter um colo a quem recorrer no medo

nunca qual a dor adulta de que o medo do medo apavora...

Salta-me falar do primeiro amor, pleito de todo angelical

daquele de que ninguém se furta, mas do âmago se afasta,

das melodias que vertem a presença amada à imaginação...

De o amor na sutileza elevada de quem da alma retira o melhor

nunca qual o apelo adulto de amar sem a entrega espiritual...

Salta-me falar da saudade indescritível que tudo isso me traz

e tantas coisas que suplantam e extravasam o limite da razão,

das emoções tão elevadas quanto advindas de coisas tão simples,

pequenas coisas, maiores até que a simples lembrança pode enumerar,

nunca qual a complexidade adulta que delas faz questão de esquecer

Coisas simples que muitas vezes não cabem em mim

E por isso me fazem sorrir, tamanha comoção me leva a chorar!

Nalva
Enviado por Nalva em 16/02/2007
Reeditado em 28/09/2008
Código do texto: T383882
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