SOU FOLE, SOU GOLE, MAS NÃO SOU UM MOLE

Sou quente, sou fole, sou gole, mas não sou um mole.

O que ocorre é o que escorre de mim na manhã de alecrim.

Não é jasmim, não é assim. O que procuro de mim, não tem fim. Quando procuro, não acho, procuro novamente e novamente me encontro perdido. Se me encontro, sou feliz achado, e o achado novamente, se perde: é o achado perdido que mais uma vez se acha escondido, esquecido, preterido, não preferido.

- É uma descoberta do mundo eu, afinado, não confinado; desgastado, não procurado! É assim: estou perdido; se disfarço, me encontro; se me encontro, novamente disfarço e me perco! Que emaranhado! É o mundo eu! Quase tudo se perde, jamais se encontra... sou outro, que no mundo se perde. Que torto mundo eu! Foi assim, sempre assim... mas ainda não é o fim! Se me perco, tenho que me achar! Sou rastreado da cabeça aos pés... Que rústico pedaço de mim! Acovardado, restrinjo-me no meu espaço reescrito em preto. Até que em fim acordo! Nada da boca pra fora: Tenho dois foles... eu sou um fole, o mundo não me engole, me acolhe e me encolhe... não sou passado...sou presente sonhado, futuro arrematado. Não tenho passos marcados, nem cartas! Fora do mundo sou um imundo vagabundo, surpreendente sonhador comportado, no mudo mundo -coiote desmamado, que bebe água nos manguezais - Cabrito mimado solto no lençol floral- urtiga abundante no matagal florido espinhento. Não sou arbusto; isto também não é o fim!... Sou fole; sou gole; tenho dois foles, mas não sou um mole!

Zecar
Enviado por Zecar em 28/07/2005
Reeditado em 15/06/2016
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