Intervalo para chôro

Meio-dia e meia,

sai a jovem para almoçar.

Põe no prato tudo que lhe apraz

e não se preocupa com o quanto vai gastar.

Senta sozinha e mastiga devagar,

sempre olhando a cadeira vazia da frente.

Ela se lembra de um só dia,

em que ele comia

um prato de pedreiro

e sorria

satisfeito.

Mas as lágrimas queriam logo vir,

Pede uma torta para ver se se alegra.

Nada!

Deixa um pedaço para quem não está lá.

Precisa chorar, mas não quer a vejam.

Onde ela pode chorar em paz?

Qual lugar que ela nunca entrou com ele?

Entrou, assim, no Passeio Público.

Ele a advertia a nunca entrar lá:

"Esses lugares têm muitos mendigos,

um mal-intencionado pode te assaltar."

Não ligou para o aviso e entrou na área verde.

Foi caminhando,

respirando

e segurando as emoções.

Parou numa ponte e olhou os peixes da lagoa,

"Felizes são vocês, que não sentem saudades,

e muito menos podem chorar".

Caíram as primeiras gotas.

Andou mais um pouco:

a fonte dos amores!

Chorou ali tanto que poderia encher de novo

aquela fonte vazia.

Havia dois crocodilos de concreto nela.

"Felizes são vocês, que choram,

mas é tudo balela".

Perle
Enviado por Perle em 20/08/2012
Reeditado em 06/10/2012
Código do texto: T3840373
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