Intervalo para chôro
Meio-dia e meia,
sai a jovem para almoçar.
Põe no prato tudo que lhe apraz
e não se preocupa com o quanto vai gastar.
Senta sozinha e mastiga devagar,
sempre olhando a cadeira vazia da frente.
Ela se lembra de um só dia,
em que ele comia
um prato de pedreiro
e sorria
satisfeito.
Mas as lágrimas queriam logo vir,
Pede uma torta para ver se se alegra.
Nada!
Deixa um pedaço para quem não está lá.
Precisa chorar, mas não quer a vejam.
Onde ela pode chorar em paz?
Qual lugar que ela nunca entrou com ele?
Entrou, assim, no Passeio Público.
Ele a advertia a nunca entrar lá:
"Esses lugares têm muitos mendigos,
um mal-intencionado pode te assaltar."
Não ligou para o aviso e entrou na área verde.
Foi caminhando,
respirando
e segurando as emoções.
Parou numa ponte e olhou os peixes da lagoa,
"Felizes são vocês, que não sentem saudades,
e muito menos podem chorar".
Caíram as primeiras gotas.
Andou mais um pouco:
a fonte dos amores!
Chorou ali tanto que poderia encher de novo
aquela fonte vazia.
Havia dois crocodilos de concreto nela.
"Felizes são vocês, que choram,
mas é tudo balela".