O manto cinza-profundo cobre um céu já acinzentado em seu brilho mórbido-alaranjado; tomado pelos sons eletrônicos e mecânicos que nada tem a contar, o vento continuamente sempre falando, muito a dizer, contudo não posso ouvir a voz de seu coração, pois o meu próprio no frio de paredes descolorida não sou capaz de escutar.
       Preso nesta armadilha onde nada mais parece natural, nem mesmo os sentimentos, quem é que sente o peso?, sofro, agonizo, dia após dia, lutando contra vozes que tentam calar a minha voz; vozes tão conhecidas e que poderiam ter sido tão agradáveis vivem apenas para destruir meu interior, tão apaixonantes enquanto vem matando minhas escondidas paixões. Estou preso no mundo sem sentido, ou transbordante disso, um mundo que dá valores para extinguir outros, onde o amoral é chamado imoral, a moral é tão imoral quanto tudo o que se diz contra, nada pode escapar, e os imorais são quem governam, deixados os escrúpulos foram para trás, quem se levanta para lutar?
       Mas o manto cinza-profundo cobre um céu já acinzentado em seu brilho mórbido-alaranjado; trazendo as velhas novas do futuro, o mundo não mudou. O protestar das gotas de chuva que se arrebentam no concreto sem vida, tal como minha voz se arrebenta nas mentes duras, das pessoas modernas e que nem sabem que já não tem vida; e tudo que era vivo desbota, cresce para perder os sonhos para o desejo alheio implantado em seu seio.
       Os dias tem se tornado cada vez mais amargos, o velho sabor se perdeu junto com tantos sonhos, o que um dia era vida agora transmutou para um cronometro para a morte, o vento não canta mais as canções da manhã, para apenas dar os beijos da saudade no dia final. Nem mesmo este texto tem mais o sabor que deveria ter, torço para que meu próprio coração não venha a morrer no próximo amanhecer.
Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 30/08/2012
Reeditado em 30/08/2012
Código do texto: T3857634
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