Ela e Eu..

Assim dizia Ela.....

ELE

-Estou farto de minhas próprias chatices. Percebi que sou tão dispensável ao outro quanto indispensável a mim mesmo. Aprendi que as pessoas não têm dimensão da força de uma palavra. As virtudes do meu passado lutam constantemente contra meu presente e eis que meu passado é ateniense e meu presente, espartano. Percebi que sou um ignorante de tudo e quanto mais tentar aprender, mais vou esquecer o que sei. Antes achava que deveria fazer muito mais por mim do que pelos outros (e não conseguia). Hoje tenho certeza! Preciso urgentemente de altas doses de mim mesmo: tenho criado meus próprios problemas e, mesmo sabendo resolver todos eles, tenho me prejudicado muito. Enfim, estou cansado de fingir que não entendo as entrelinhas.

ELA

- O que eu faço quando os espartanos e os atenienses te procurarem?Digo que você largou tudo e foi morar no capão ou falo que você é tão dispensável que nem lembro quem você é... Não sei das suas virtudes do passado e nem da ausência delas no presente. Nada sei... Mais eu estou farta dessa sua filosofia barata, desse lirismo fajuto e desse bando de palavras compradas em livros de auto-ajuda. Sabe como é, cansei desse seu ciclo vicioso, dessa mistura de altruísmo com uma boa pitada de egocentrismo. Hoje tenho certeza!Preciso negar as altas doses de você. Enfim, estou cansada de fingir que entendo suas entrelinhas.

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Assim eu digo....

ELE

Sim, sei das entrelinhas. Na verdade sei delas faz tempo. São como o vinho escuro pronto para ser servido como água.

Já para a auto ajuda, -Ahh!! esta me parece bastante aguda quando assumo ser de mãe, biblia, Deus, destino, companhia, certeza, solidão.. -Também Confesso! Tomo sempre os meus remédios, justifico enquanto bebê, me atenho como adulto e reconheço minha sonora música de letargia. Mas vacilante! Porque? Ajuda, de onde? Sei que pareço externo as vezes, mas quem conhece o interno totalmente. A poesia, filosofia, técnica, linguística, retórica, ilusão, quantas serão. Quantos passos estarão programados à dar além da imagem impressa e desgastada.

Deves ter razão. Sou um perdido! Não consigo ser de nada além de mim mesmo. Enquanto a sequência me é curta, diminuo os passos como não tendo mais nada à dizer ou a expressar e continuo: -Porque não sei quem sou? Porque não posso escolher a cada instante, porque continuo a testar minha rebeldia frente a lógica? No fundo sou como todos, só quero achar a minha cartilha, saber das entrelinhas e deixar o rio correr seu curso.

Ainda sobre o curso das certezas, como enganar o meu espírito com pérolas dizendo coisas e mais coisas sobre mim, e coisas sobre a identidade infinita dos olhos, como se fosse fácil desvendar tal genética por nós mesmos. Quão coragem se tem para acessar por dentro da minha alma e dizer, firmemente: -Esse é um clip, onde penduro papel e digo coisas. -Sensacional! Eu diria, nunca me foi tão claro a nostalgia de representar o papel de um clipe com função.

ELA:

Lá vem ele com as entrelinhas.... Ação!