"Contrabandista" (Republicação)

Durante certo tempo contrabandeei sensações. Das triviais às ordinárias, todas foram irrefutavelmente benéficas às minhas criações. Vividas ou fantasiadas, amadas ou odiadas, situam-se aqui ou acolá, povoando imaginário do Licencioso.

Tentei, a duras penas, aquietar meus modos poéticos. Lutei em vão, precipitei-me em ler literaturas amenas e pueris. Rejuvenesci o repertório de patifarias, num processo semelhante à produção do vinho: colhi, decantei e envelheci minhas uvas.

Não discorro amores primaveris, nem mesmo sobre paixões momentâneas; faço-me, agora e até quando durarem meus impulsos, entregue aos devaneios e as palavras marginalizadas.

Eu volto, na lentidão característica de quem nunca esteve ausente; mas que esteve sempre a espiar pelo eterno buraco da fechadura.

(preciso voltar a escrever compulsivamente... é uma necessidade)