Por  vezes me sinto seca. Seca a ponto dos galhos começarem a ameaçar partirem-se. Como se faltasse seiva para alimentá-los, como se fossem quebrar a uma simples ventania. Uma secura abstrata, mas perceptível à alma, uma secura que seca a saliva, que adormece os sentidos, que apaga as letras, que apaga a chama, que escurece o mais belo amanhecer.
       Ausência de afeto, carência de ternura, tudo leva a secura. O cinza vem em ondas e invade, me invade, ocupa todos os espaços, sufoca, me sufoca.
       Onde a luz, onde o riso cascateando, onde estancou o brilho da vida? Onde o tênue fio que segurava a alma, onde a alegria desmedida, partida, repartida, a irreverência, o descaso com regras, normas? Tudo foi tomado pela onda gris. O fazer ou o não fazer se igualam e têm o mesmo valor. Equivalem-se na pouca importância de ser ou não ser.. Vida em compasso de espera, uma espera à margem de tudo e de todos, sem relógios nem calendários. Simplesmente uma espera. Indefinida, impessoal, incolor no silêncio que norteia esses dias enormes, tão somente dias, nada além.