Dou-me

Dou-me ao ser, enfado e assim como em oração, junto as mãos

E peço ao céus, que o meu, no teu se finde, dê cabo

De mim em ti, de ti em mim, aquilo tudo de amargo,

Talvez doce, mas que se torna culpa, falta, cansaço

Que se junte as lembranças em vias de esquecimento

E que se esbarrem apenas elas como folhas, num amasso

Se borre entre pontas, empanadas de outrora momentos

E que se tenham rascunhos, que para nada servem...

Dou-me ao ser, que era, e com calma espero escrever-te

Mas esqueço, que de ti não guardo letra, tão elas se metem

Por entre as folhas, quer seja num pensamento...

Minha oração não é ouvida, e de vida se faz ou, sina

Pois a ti não quero ser lembrança, quedada, nem culpa

Como assim me és, fado...Queria ser aquilo que não posso,

nem fui, jamais seria decerto.

Assim, em ti não me quero ensejo, nem gosto, dissabores

Tão pouco desgosto, tacto, nem sombra,

Que eu seja apenas linha, fina...Ténue,

que se rebenta por entre os pés, que em escárnio caminham

Escárnio, amor de outrora, dado, ao rumo que se perdeu...

E que alguém encontre,

Ainda que para tripudiar, encumear o restolho que se fez, um ser

Que era...Dou-me, tão apoucado, que poucos hão de ver o que ainda resta.

Junior Antonio
Enviado por Junior Antonio em 24/02/2007
Reeditado em 24/02/2007
Código do texto: T391732