Houve uma reviravolta no meu querer. Começou de mansinho, de leve, como se não quisesse assustar. Nada que me tirasse o sono, ou me fizesse achar que era o amor a chegar. Era tão pequeno que pouca importância cheguei a dar. Certamente era apenas um currupio a coçar meu coração. Apenas isso. Mas, os dias foram passando e entre uma rega e outra lá estava ele brotando. E como o pé de feijão de Joãozinho desembestou a crescer. Virou sentimento terno, doçura, virou uma coisa sem nome que me apertava o coração a cada dia. De início, me encantava com a novidade. Estava preenchida de afeto. Sentia-me plena.
       Era o amor enraizando, escangalhando meu corpo. Coração descompassado, sentimento aflorando fora de hora. Nítidas amostras que o amor havia se instalado. A felicidade era tanta que as pernas bambeavam, as maõs suavam e a voz ficava embargada diante do objeto amado. Eu o via lindo, encantador, perfeito.
   Apenas um detalhe foi esquecido. Existiria recíproca?
Tamanho sentimento tinha guarida naquele coração a quem tinha sido oferecido esse sentimento? A que ponto foi entendido o sublime dom de ser amado sem limites, sem respostas...
    Um dia qualquer, ele partiria. Com ele seguiria minha alma, seguiria minha alegria, arrebataria meus sonhos de plenitude.Talvez nem tenha percebido a valiosa bagagem que levava. Mas, cá ficou uma banda sem banda, um pedaço fragilizado que poderia desabar a qualquer hora como um castelo de areia à beira-mar.
   Fatalmente aconteceu...
   Agora voltei a te ver e pergunto. O que foi feito daquela riqueza de sonhos, daquele amontoado de sentimentos, daquela explosão de carinhos, dengos, amor desmedido... Por acaso  jogastes ao vento, ou simplesmente fincastes na terra como se finca um morto?