Dentro da minha boca

Não estranhe minha distância, minha falta de palavras, talvez mesmo morando dentro da minha boca, as palavras estejam enroladas em minha língua...

Nunca fico em completo silêncio, me sobe pela espinha a sensação de que sentimentos derramados na minha pele penetram pelos poros e se transformam ora em perfumes enjoados ou em palavras que adormecem cá dentro, pra explodirem num dia qualquer sem hora marcada...

A terceira visão separa meus olhos e além de conhecer o meu registro no universo, serve de farol para guiar meus passos. Nem sempre conservo aberto meu canal lacrimal e nem sempre quero olhar na mesma direção, mas conservo a íris acesa, mesmo quando a mente está em repouso...

Não se admire se eu me calar sem ao menos fazer um gesto, se eu me mantiver em estado de vigília na sua presença, ou não sentir desejos de cantarolar, isso em nada diminui os meus instintos. Sou um poço de pensamentos, de avenidas inteiramente freqüentadas por sensações, cheiros e palavras, assim enquanto mastigo e saboreio o movimento que circula nas minhas entranhas, me esmero em devolver em tons e sons tudo que me embriaga a a alma e sujeita o corpo...

Dentro da boca fechada se agitam palavras tantas, umedecem os lábios de prazer, mas nem sempre querem falar, algumas vezes elas só querem sorrir entre os dentes pra afugentar os pensamentos, ou sussurrar segredos que se espalham como rastilho de pólvora pelo seu corpo excitado.

Se não vierem à tona de mim, talvez as veja quando minha boca tatuada de vermelho intenso perder o juízo de vez por causa de você.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 01/08/2005
Reeditado em 01/08/2005
Código do texto: T39562
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