O Bem.
O bem não faz por fazer...
Por prazer ou orgulho...
É de seu instinto a prática do bem...
Não espera recompensas...
Não teme castigos...
Dos céus... , dos infernos..., de quem for...
E muito menos se coaduna com imperativos de consciência...
É natural, puro e singelo como uma flor que fura o asfalto...
Diante o tédio, o nojo e o ódio...
O bem é a leveza do ser, mesmo que insustentável...
É a alegria de deuses e astronautas...
É o vôo livre do pássaro...
O sorriso sincero da criança...
O abraço fraterno dos irmãos...
O carinho da mãe...
Um cobertor numa noite gélida...
A libertação causada por uma boa música...
O bem não espera que lhe agradeçam...
Nem que o saúdam como ídolo...
Muito menos que lhe lancem aplausos e flores...
É a vida que brota, sem mais...
À falta de perguntas, de respostas...
O bem prossegue...
Entre ratos e homens, imparcial feito a justiça cega...
Apanha, mas enterra a dor em campos de esperança...
O bem é a vitória do solitário...
A sobrevivência do soldado quase morto...
Daquele que caminha contando nuvens...
Tentando alcançar o sol...
O bem é a salvação da lavoura...
A persistência do derrotado...
A satisfação da velha que vê os netos criados...
Do causídico que abre mão de seus honorários...
Em prol de quem realmente precisa...
O bem não tem explicações...
O bem é praticado como um bom exercício...
Sem reprimendas...
Sem esperanças de dias melhores ou piores...
E segue adiante...
Não existem palavras para definí-lo...
Não existem templos capazes de incuti-lo em cabeças pias, ímpias ou vasos sanitários...
Líderes de torcidas...
Gladiadores do dia-a-dia...
Soterrados em burocracias...
Enforcados em nós de gravatas finas...
Trânsidos atravessando grandes avenidas...
Às pressas...
Às cotoveladas...
Aos rodopios...
Esbarrões em escadas...
O bem está além da compreensão humana...
É preciso simplesmente praticá-lo, diariamente, digeri-lo e transpirá-lo...
Como se não restasse mais nada...
*Dedicado à minha filha.
SAvok OnAitsirk, 09.11.12.