A Poeta despe a Poesia

A poeta silencia a poesia!

A poeta solicita o desacorde de versos

Revolta-se com todas as palavras soltas

Destoantes rimas e anedotas adota

A poeta pede licença a língua presa

Revolta-se!

Na reviravolta dos poemas uma letra, o lamento, o tormento.

O estorvo da tradução é a prosa do fonema.

As palavras ditas são lançadas no verso do sonhador

Voe e voa

O acento sacoleja as frases

A poeta revolta-se!

Sílabas tónicas, acentos são crases

A poeta revolta-se!

Sentimentos e cantilenas

O poema é pensamento...

Uma linha torta de perguntas cheias.

Indago as sentenças

Prosa não é o poema interrogatório?

Um conto encanta e ganha o ponto final?

A poeta desnorteia a metáfora

Vascoleja as vírgulas e pronto.

A poesia do esterco emana de campos floridos

Desertos decifram poemas?

A poeta revolta-se contra o meio

Expira a poeira do poema

O campo transpira o deserto

A flor do deserto nasce da sujidade

A poesia respira

A poeta volta-se

Realinha

Pensa

A poesia vence a poeta

Despe-se o poema.