Durante aquela viagem

Eu pensava tanto em voltar e te ver, pensava em não querer te deixar, mas mesmo assim fui pra longe e você ficou sozinho. Eu pensava em te escrever pra te contar o que eu estava sentindo, repartir um pouco da minha saudade com você, mas não tinha ao menos coragem para ligar pra você. Eu passava em lugares verdes e frescos e me lembrava de ti, do teu cheiro, empregnado tantas vezes em mim. Eu caminhava por estradas de pó que não tinham fim e não davam a lugar algum, na tentativa de não pensar tanto em ti. Eu passava as tardes dentro do quarto imaginando os detalhes de nosso reencontro: eu usaria roupas negras, cabelos soltos e o perfume com que você me presenteara. Eu ficava feito tola lembrando do seu sorriso e imaginava o quão aberto, espontâneo e feliz ele estaria ao ver-me entrando em seu carro. Eu gastava horas, dias inteiros idealizando um reencontro perfeito - tantos dias de saudade! De desencaixe! De desabraço!

Sentia em meu peito algo estranho que ultrapassava e até mesmo transcendia o significado que a palavra saudade tivera para mim até então. Eu que pensava ter conhecido a saudade em suas variadas formas, percebi que a saudade era mais do que uma dor da alma. A saudade, entendo eu, é uma dor também física, presente. Faz o coração bater acelerado pela carência, no entanto, ao mesmo tempo, faz com que o músculo desacelere o ritmo de suas batidas na maioria das vezes alinhadas. Durante aquela viagem, por várias vezes senti meu peito desabrochar em dor. Senti o coração bater e parar e voltar a bater. Senti nas mãos a fantasia de estar contigo e poder tocar o vazio, como se tocasse a ti. Senti, plenamente, o gosto de teus beijos em minha boca e o toque de suas mãos em minha pele. Senti o sua respiração e seu sopro em minha nuca me falando baixinho e me desejando "ótima noite". Por tantas vezes perdi o sono imaginando poemas de amor rasgados, composições melosas que só os apaixonados sabem fazer e guardam somente para si. Busquei em mim mesma o que tinha deixado contigo, mas não encontrei - você soube guadar e até agora não soube me devolver.

Durante aquela viagem, fui encontrando você em cada dia. Tantos lugares, jantares... Tantos momentos de deleite despediçados! Porém sempre a certeza de que iria te reencontrar assim que eu retornasse daquela viagem. Roupa escura, constrastando com a cor da minha pele, como você sempre pedia.Muitos abraços, muitas coisas para contar, muitos beijos para trocar e muito amor pra dividir. Assim era o sonho sonhado todos os dias durante aquela viagem.

Anaturva
Enviado por Anaturva em 01/03/2007
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