Perspectiva de espelho

Talvez eu seja o rio que te corre dentro. Que te corrói. Mas é o teu barro que me turva, que me delineia as curvas.

A tua carne é a que é fraca em mim. E a tua ausência é o meu desespero. O cheiro das minhas mãos tem o teu nome e a sombra do isolamento. Passo o tempo a evocar fantasmas da nossa página que já teve um outro colorido; recordações de veludo, de lençóis com as cores da impaciência do tempo. Hoje, náufraga de algum porto desconhecido, carrego lembranças do que não vivi. Junto emoções de quando estivemos juntos e busco vozes para tatear com a pele. Arrepios que não espantam as dores das entranhas.

Tínhamos a cumplicidade dos prazeres escorregadios, grandes, devassos. Tínhamos pactos secretos e cores inventadas em um milhão de palavras à escolher, hoje, só temos uma: a que devora.

Girávamos em torno de nós mesmos e a beleza das manhãs eram sonhos palpáveis de olhos com a fome do horizonte. Tínhamos aprendido a conviver com nossa inquietude e o só me fez esquecer a compreensão e meu sono agora vaga com um estranho gosto de terror; o medo de acordar e atravessar oceanos de desertos.

Ando tentando enlouquecer as coisas para me sentir lúcida.