O vento sopra azul.
O vento sopra azul.
Da janela, o mar, a floresta e a montanha são azuis como céu. Incrivelmente azuis. Vertiginosamente azuis.
Da janela, o tempo é espetáculo. Brisa ou ventania são simplesmente ar. Chuviscos ou temporais são águas claramente. As atuações primorosas. A afinação da orquestra é perfeita. O palco enorme. A plateia não. Saio da casa eu. O vento é meu cicerone. Errando por lá, ali e além, aqui me vêm as ideias voando.
Nas casas onde vivi, encontrei gente muito diferente e mobília de vários estilos. Sentia falta de jardins. Nas paredes de algumas, havia pinturas. Quadro a quadro a história se constrói e eu me reconstruo.
Nessas andanças, saí da casa grande para manter a vida em grande estilo. Os ventos já sopravam o aroma do novo lar. Cheirava a pau-brasil e amora.
Entrei no corredor. Ele era azul. Um azul diferente daquele da minha janela. Era forte e real. Fui muito bem recebido pela anfitriã. O vento, esse amigo sem rosto, me dizia da hospitalidade do lugar aconchegante onde pisava pela primeira vez.
Não vou sair. O ninho é confortável. Daqui posso voar e voltar a ver as montanhas, a floresta, o mar, o rio, o gelo e lava do vulcão. Daqui eu vejo gente num pulsar de vida e vida em abundância. A responsável pela casa cuida dela com muito carinho e é por isso que hoje escrevi estas palavras. Não estou aqui, mas pedi para o vento trazer o meu recado.
Minha diretora, obrigado pela acolhida. Obrigado por acreditar que poderia cuidar dos jovens daqui. Ganhei outra família tão sensacional quanto a minha. Uma grande família cuja jovem matriarca rege a sinfonia em notas incomparáveis. É para ela que peço aplausos de pé.