'' JOSÉ....MARIA...e o pequeno Jisuis ''

Seo José era o verdureiro que todo santo dia logo pela manhãzinha lá vinha ele subindo minha rua vendendo suas fesquinhas verduras.

Dona Maria, sua '' mulher '', vinha junto.

Ele carregando uma cesta enorme, ela outra, ele gritando bem alto desde lá de baixo no começo da rua,...e que subida!!!, apregoando suas verduras....e as mulheres saindo e comprando....as cestas por si só já eram pesadas e mais o peso das verduras, vichiiii!!!, coitados!!!

Para mim seo José e dona Maria pareciam que sempre foram velhos, eu os conheci assim, eu cresci e fui ficando velha tambem, mas eles não, pareciam terem sido sempre assim, para mim pelo menos.

Nasceram aqui na minha cidade, um dia se encontraram, se gostaram, namoraram, noivaram e se casaram, foram morar em uma fazenda, a fazenda virou loteamento e eles continuaram com uma pequena chácara por lá, e tiravam o seu sustento para criarem a familia, grande, que tiveram, filhos e filhas, todos agora casados, e vieram os netos e os bisnetos e eles na mesma labuta, plantando verduras, frutas, legumes, hotaliças e flores...no finados faziam um bom dinheiro extra...tadinhos!!! e a cidade cresceu e minha rua apareceu e meu pai comprou um terreno bem no topo da rua e nossa casa foi lá construida e assim que nos mudamos já vi seo José e Dona Maria subindo a ladeira e ele gritando ''verdura.''..minha mãe comprou e ficamos amigos deles para a eternidade, alias, como todos no bairro..

Meu pai ficou com dó do seo José e lhe deu de presente uma buzina que era tão estrindente que acordava toda a gente de uma só vez...pediram para ele não tocar nos domingos, ele vinha e não tocava a buzina, gritava '' verdura '',vendia e sumia, ia na missa das onze...ele e ela...José e Maria nunca na vida deles perderam uma missa, mas tinha que ser a das onze...antes trabalhavam depois rezavam e pagavam seus dizimos direitinho...erão bons cristãos..amem!

Os filhos foram se indo, eles ficando.

Ficando os dois sozinhos.

Tinham cachorros e gatos de montão.

Amavam as pessoas e os animais.

Uma manhã de domingo em frente da minha casa apareceu um cachorrinho branquinho lindinho, alguem tinha deixado o coitadinho, de noite, abandonado por ali, dentro de uma caixa, minha mãe ouvindo os ganidos foi ver do que se tratava, ficou morrendo de pena e eu olhando e querendo ele para mim, meu pai tambem queria trazer para dentro de casa e vieram as vizinhas e os vizinhos e mais as crianças ainda de pijamas.

E minha mãe ouviu seo José lá no começo da rua gritando suas verduras, não pensou, desceu a ladeira nas carreiras sem siquer se lembrar que estava de pijamas e descalça, eu atras e meu pai ralhando com nos duas....

Seo José e dona Maria ao ver a cena, pararam e ficaram olhando e tentanto adivinhar o que estava acontecendo...

Minha mãe mostrou a caixa.

Dona Maria tirou o cachorrinho lindinho branquinho da caixa, ergueu no ar como um troféu e na hora lhe deu um nome...

Aiiii Jisuis....comu ele é lindinhu...cuitadinhu..vai si chamá Jisuis...e Jisuis ficou, ficou, cresceu e viveu além daqueles '' dois ''.

Minha mãe se ofereceu, magina que não, e dona Maria aceitou, minha mãe tomou conta do Jisuis até os dois acabarem de venderam as verduras naquele domingo lindo, alias, minha mãe sempre dizia que foram as vendas mais rápidas que aqueles lindos dois fizeram na vida deles para virem logo buscar o Jisuis na minha casa..eu chorei quando ele foi embora, queria Jisuis só para mim, queria ficar com Jisuis comigo para sempre e minha mãe me explicando outras histórias da Biblia onde havia outro Jesus que sempre dizia...'' deixai vir 'a amim as criancinhas( e os animaiszinhos tambem '', pois 'a eles pertece o reino dos céus...eu amava estas histórias...amo até hoje.

Foi o primeiro domingo que os dois não foram na missa das onze.

O cura, o vigário, da paróquia notou e comentou.

Ficou sabendo da '' história '' e do nome.

Zangou...ficou uma fera e no sermão do domingo seguinte na missa das onze, com os dois lá ouvindo, disse claro que o nome de Jesus não era para ser colocado em animais, ainda mais em cachorros..

Na hora os dois levantaram e foram apressados lá para a frente, a igreja parou...não se ouvia nem uma mosca voando...e dona Maria, braba e zangada com o cura da paróquia do bairro e tímida como ela era, coitada, agarrou o microfone e foi dizendo para o vigário...

Padri Dinu..num diga istu...u nomi dele num é Jisuis é Jisuis i tem mais padri Dinu... o Jisuis qui u cê qué dizê é Jisuis Cristu i u meo Jisuis é só Jisuis...( a paroquia inteira caiu na risada e Padre Dino ficou vermelho feito um pimentão e tentava arrancar o microfone da mão dela...) e ela citou o que Jesus disse....deixai vir a mim as criancinhas e os animaiszinhos tambem...foi uma coisa linda e a paroquia toda se levantou e bateu palmas...a missa continuou numa boa, mesmo com '' Padri Dinu '' meio que zangado, mas no final ele riu e pediu para dona Maria um dia trazer o Jisuis para ele '' batizar ''...ela, simples e modesta, coitada!!! adorou e um dia levou mesmo, ele batizou, abençou e virou o padrinho '' di Jisuis ''....foi o maior comentário no bairro e na cidade tambem, por que não?

Meu pai um dia comprou dois carrinhos de pedreiro novinhos em fôlha e deu de presente para seo José dona Maria e eles no dia seguinte vinham felizes e com muito mais verduras para vender e dentro de uma cestinha pendurada vinha Jisuis olhando com curiosidade toda aquela atividade...e quando ele foi crescendo vinha seguindo os dois...uma coisa linda de se ver.

Os visinhos e meu pai mandaram fazer uma carrocinha de madeira, maior e melhor, e cabia mais verdura e dona Maria agora não mais empurrava, vinha trazendo uma sombrinha, que minha avó havia lhe dado, minha avó perguntou a côr e ela disse que gostava de vermelha, e foi esta côr que minha avó comprou...ela amou, não largava da sombrinha de jeito nenhum...tadinha!!! naquele sol, e agora sim...cobria ela e seu '' velho '', como ela chamava o seo José...e tambem Jisuis na sombra da sombrinha se escondia..seo José era dela de verdade, e ela era dele...se pertenciam mesmo, se amavam. E Jisuis no meio dos dois....sempre!!

O bairro todo se preocupava com os dois.

Se voce fosse na casa deles a hora que fosse, ia sempre encontrar alguem por lá dando um dedo de prosa, vinham os filhos e filhas, os netos e os bisnetos, era uma casa abençoada e minha avó brincava, mas eu acho que ela falava sério....

E´que Jisuis mora por lá.

Eu acreditava.

Eu adorava ir na casa deles, via e brincava com Jisuis, afagava, carregava e ele fazia a maior festa quando me via, minha mãe então!!! parecia que Jisuis sabia que tinha sido ela que o tinha encontrado, que o tinha salvado do destino ruim da rua, de ser mais um vira-lata, tombá-lata...tadinho!!!

E um dia tudo isto começou a se acabar.

Seo José foi se encontrar com o Pai.

No dia seguinte aquela tristeza.

O dono da quitanda do bairro de um lado contente, venderia mais verduras de agora em diante, mas por outro lado bastante triste...ele e seo José eram amigos de infância.

Dona Maria ficou triste e abatida.

Seis meses depois dele ela tambem com o Pai foi se encontrar.

Foi luto geral no bairro.

E mais uma vez a paróquia ficou lotada na missa de sétimo dia, como no dia do seo José.

E no dia seguinte encontraram Jisuis deitadinho no túmulo dos dois.

E foi Padre Dino quem teve a coragem de ir lá buscar.

Ninguem da comunidade tinha.

Padre Dino foi, pegou, cuidou de Jisuis até um dia que ele tambem foi para os braços do Jesus que o esperava de braços abertos para abraçar bem apertado...e depois o entregar de novo para seus verdadeiros pais...afinal todo Jisuis tem que ter um pai chamado José e uma mãe chamada Maria...

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 01/01/2013
Código do texto: T4062490
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