ONTEM E O PARAÍSO
Ontem derramei minhas últimas lágrimas por você, ou será que foi por mim?
Ontem chorei tudo de novo, mas agora a fonte secou. Ou será que ainda nem jorrou?
Em verdade a gente não sofre pelo amor, mas pela falta do mesmo.
Você não vai aonde eu vou. Onde você mora eu não estou.
O que terminou, terminou. Paciência! O que se há de fazer?
No entanto, creia-me, meu benquerer. O tempo de colhermos os doces frutos do nosso verdadeiro amor ainda não chegou.
Ontem o céu da Terra toda se acinzentou, o prelúdio da grande tempestade. Mas aqui dentro tudo era calmaria, uma tristeza fria.
Era quase madrugada quando a lua perdeu o seu brilho prateado e as estrelas despencavam do espaço como anjos celestes decaídos. E ainda assim na minha mente concentrada, em imagem única em beleza, você sorria.
Minha alma, antes acabrunhada, ganhava ânimo e claridade.
Ouviam-se gritos lancinantes, e o clamor de pecadores e hereges arrependidos de última hora. Lá fora o mundo ruía, enquanto o meu amor por você resistia.
O orbe terrestre tornou-se uma massa de seres desesperados. Em meu cerne reinava certa apatia em meio ao enlevo. Um vislumbre do paraíso, para onde certamente o seu amor me conduzia.
Depois dessa última noite da humanidade desumana, eis que finalmente o sol apareceu majestoso anunciando uma nova era.
Quanto a mim, aprendi que os mundos são transitórios, existindo até cumprirem a sua finalidade. Mas o amor, ah, esse sentimento tão sublime! É o bem maior; dura por toda a eternidade.