Solilóquio de uma farsante

Às vezes sinto uma angústia no peito... tantas cobranças, tantos enfoques – foco em minha constância; não uma visão ampla de meu verdadeiro Eu... Sinto sempre a premissa de um retorno ao que nunca fui, mas que tanto me é jogado (delicada e insistentemente) nesta minha face transparente: Solidez. (Até eu me gabo disso, às vezes.) Mas sou uma farsante! Sim, uma farsante. Não sou forte não... também perco o meu chão, constantemente. Se, quando dos meus fins ( fiNS, porque não sou uma, sou várias: a que venceu uma neoplasia raríssima, com a ferocidade de uma leoa = fé; aquela que chora, em filmes animados da Disney, em todo e qualquer casamento, quando ouve clássicos, piano, violino - então... aquela que teme a morte - cedo, por medo de não viver,...), no meu momento de despedir-me dessa vida terrena e passageira, quero na minha lápide uma estrela, e nada mais. Não porque eu me sinta uma, mas simplesmente pelo bem que a luz me faz – uma única no céu – já me apraz, só em ver algum sinal; talvez, aquele que me dê a esperança de alguma coisa que eu não decodifiquei até o hoje de meus dias. Mas aquele brilhinho me traz uma paz imensurável. Sou uma, mais uma, mas Uma a mais, a delirar com aquela exortação de luz no universo... Sinto-me, tantas vezes, num mundo que não é o meu. Talvez uma Lizz Bennet, dos romances de Jane Austen, alheia às solicitudes de uma época, maculada pela hipocrisia da sociedade constituída... Aquela que é atenta, mas despreza as coisas fúteis e mornas (?) com que convive. Eu sei, recomponho-me rápido. Sou uma fênix, decerto! Mas até “os seres poderosos, dotados de magia”, têm seus pontos fracos, quanto mais eu, essa poderosa farsante, ocultando minha fraqueza sob a aura de fortaleza que a vida me impôs – e pouco ou nada fiz para não alimentar isso – e continuo nesse trilhar de caminhos: escrevo e até vivo meu poder. Farsa, farsa pura: tenho medo de magoar, de infringir, medo de não agradar... Pelo menos me restou grande dose de autenticidade nas palavras; essa, não se contaminou com o meu pseudo-poder, engodo dos engodos, que me tornou uma mulher admirada, Forte, até invejada por aqueles que se sentem acuados. Sim, posso ser tudo (ou quase tudo isso), mas meu desígnio de “Forte” é em minúsculo, não me declino mais a outros adjetivos que não o de uma farsante. Doce, naturalmente, orgulhosa, provavelmente, mas uma farsante – certamente.

Não sou desses séculos, dessa maledicência e hipocrisia consumista – do ter, que me dói nas entranhas; meu vínculo atemporal de pensamentos advêm de força, mas de uma força carente, passível de medos, indecisões, lágrimas que teimam em escorrer despudoradamente quando vejo um bichinho com fome, sozinho na rua, querendo um alguém a dar-lhe afeição. Lágrimas que me vêm ao ler um bonito texto, e este me tocar o âmago. Dei asas ao meu estigma, e errei. Não errarei mais. Tiro agora minha “Persona”: jogo-a ao léu, para que essa turba, minha plateia, veja meu rosto - sempre a sorrir, mas com a dor mal disfarçada no olhar, e pare de me instigar à luta pelo que nem acredito, tantas vezes. Sou só feminina, felina, ativa (e levada) mas muito complicada. Enquadrar-me-ei, contudo, ao meu presente e tentarei viver de forma verossímil a minha (não mais farsante) condição de Mulher, tão somente...

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 18/01/2013
Reeditado em 18/01/2013
Código do texto: T4092136
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