SEPARAÇÃO

Ao terceiro passo, voltei meus olhos para trás e pude ver seus ombros já um tanto quanto melancólicos e caídos. De seus olhos brotaram duas lágrimas que escorreram silenciosas e sutis por sua face, fazendo rastros de tristeza e de uma saudade que já se anunciava.

Retomei meu caminho, com um nó na garganta e uma fúria inexplicável no olhar. Não era nossa intenção nos causar dor... prometemos isto no início e, aos poucos, o amor era tanto que prometemos matar e morrer por nós... e agora estamos morrendo e matando um ao outro por coisas mesquinhas e infantis.

Não vim aqui para falar de separação e de agressões. Quando saí de casa para te encontrar, a intenção seria de vivermos mais um daqueles intensos instantes de entrega mútua, de prazeres mútuos, de doação mútua. Mas as palavras e os gestos de carinho foram gradativamente substituídas por cobranças idiotas e egocêntricas que vieram em conta-gotas até que, enfim, transbordaram pela taça de nossa convivência.

Mesmo que minha vontade fosse de arrancar minhas roupas e minha blindagem e meu egoísmo para me jogar nos seus braços que, nus, me receberiam nua e submissa ao nosso afeto, liguei o carro e parti dali deixando partes inteiras de mim que escorreram junto às lágrimas que empapavam seu rosto.

Saí feito doida pela noite vazia e chuvosa e sumi na curva que nosso destino traçou.

Não vem ao caso definir quem está com a razão, pois a lógica do mundo é separar as pessoas que se amam. E o mundo, por fim, conseguiu separar duas almas que se diziam gêmeas, mas que não partilharam do mesmo cordão umbilical.

De tudo que vivemos por tanto tempo, restou para mim apenas a sua imagem combalida sob o umbral da porta.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 20/01/2013
Código do texto: T4095112
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