O orvalho da noite
O orvalho da noite passada molhou meus sonetos e meus instintos mais sutis. Era um que cantava em versos displicentes, outro que cantava uma agonia latente. Sempre versos marcados em compassos diatônicos com incursões numa escala melódica em Si menor. O orvalho de ontem esfriou tentativas vãs de criar melodias síncronas para duetos sentimentais. Pois o orvalho de ontem acabou apagando uma chama ainda branda, e tudo que havia em mim melancolicamente cedeu a um espaço que não vazio, mas molhado pelo orvalho da noite passada. Não se pode entender um dueto entre um orvalho da noite e um sentido distante que agoniza, sem explicar-se. Sinto muito, não sei se sou, ou se estou triste, mas, com frio e molhado pelo orvalho da noite passada.
Charles Silva