CARROÇÃO DO TEMPO DOS POLACOS
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Quando a tarde cai e as cortinas decem,pelos deuses, ainda ouço a voz nostálgica daquele auto falante sonolento,da sociedade Guaíra anunciando 
a chegada e o começo do fim do mundo,a festa de domingo,  a geada de segunda,a missa bizantina!
A rua Alagoas levanta a poeira cascalhada,
dona Emilia acaba de batizar o recem-nascido,e agora está comadre de minha mãe,mas, quando cai a tarde também cai a vida,e Odete sua filha moça, de pernas branquelas e grossas,com sua bicicleta azul chegará da fábrica da linhagem,onde é operária.Todos os dias leva marmita no bagageiro da bicicleta e à noite já pode experimentar os mistérios do amor...Paulinho, seu irmão, espreita-me quando passo,finjo que não o vejo, não quero saber  dele,oculta-se sempre sob a pérgula de heras e musgos daquele macabro portão de madeira,parece uma estátua mórbida numa cripta medieval,
com suas imensas orelhas de abano, ouvindo a acústica do mundo!
Não entenderei nunca o destino de Odete,não entenderei nunca o destino de Paulinho.Odete se casará de véu e grinalda,Paulinho será ceifado  aos vinte um anos...sua mãe se guardará na loucura,continuará morando no mesmo lugar,e eu mudarei de endereço para pegar o ônibus
e ir ao colégio das freiras...O muro de Berlim continuará erguido,e mesmo depois de caído ainda assimnão entenderei o destino...e na Faculdade de Direito,
voce  me beijará com seu sorriso nas escadarias, na praça Santos Andrade,
enquanto o morno  sol de inverno derreterá a geada,por entre as araucárias...