Imaturecer

Faz algumas manhãs que não encontro o meu novembro. Sim, porque dormir não tem sido mais trágico como antes, quando o processo de despertar era um puxão para fora do rio.

De noite, fecho os olhos e abro-os numa aurora qualquer. Os meses e as estações do ano perderam-se todas e tolas pelo calendário. De quando em quando faz outono nos meus lençóis. Não sei mais se isso é preguiça ou infância.

Sou menos humana e mais bentevi, os pores do sol são de uma doce canela.

Fico à minha própria espreita, só para ver o quão longe vão meus horizontes. Eu, que já me surpreendi dentro do meu próprio abismo e acima do mais verde vale. Certo dia, meu braço alcançou duzentos anos, e essa foi a tragédia da minha inspiração. O mundo não foi azul e choveu por cinqüenta anos de minuto.

Meu desajuste com o corpo tem sido ainda mais grave: a possibilidade de uma lágrima sincera é quase nula, o riso ilustra um choro irônico e a decepção é agridoce.

Faz 22 anos que a Terra dança sob meus pés. Ainda não me acostumei. O frio na barriga constrói sólidas geleiras e o coração bate em diferentes partes do corpo. Haverá um dia em que haverá uma hora em que haverá um segundo em que uma pancada do meu sangue gritará: chega! Eu não temerei pelas veias arrebentadas; meu medo será que a rachadura no meu peito não cicatrize nunca. A natureza imperfeita já deixou de me cicatrizar algumas vezes e eu temo.

Vanessa Bencz
Enviado por Vanessa Bencz em 15/03/2007
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