O POETA NÃO MORREU...

Um dia o poeta existiu... e haviam canteiros perfumados e aves coloridas, asas multicores de borboletas em revoadas.

Haviam girassóis reverenciando aos céus, enamorados de seu sol...

Houve um poeta numa rua qualquer que espreitava a vizinhança e fazia dos ruídos e silêncios a sua magia de olhar.

Havia esse poeta que a tudo notava e se apaixonava...

Mas um dia, o poeta não mais abriu a janela, não se viam luzes em estreitas faixas de frestas de portas ou janelas...

Passavam ... passavam... e o poeta não se vinha como de costume...

Uns achavam que havia morrido como todos os poetas morrem... sozinho, enamorado da lua...

Outros que sucumbiu à morte pela tuberculose que a esses se fazem par, muitas vezes, pela boemia paixão de noites ao relento cantando dádivas de amor à sua paixão noturna...

Não sabia-se mais dele... E a multidão se postou ao lado da porta... em silêncio... como se despedindo cada um à sua maneira...

E uma voz melodiosa exaltou um cântico em meio a essa multidão... o canto triste que ecoou ladeira abaixo...

Janelas e portas ao redor se abriram ao ouvir essa triste entoação... e notaram que o dia, a rua, a vila, o cotidiano delas ficara um tanto mais solitário, um tanto mais vazio, um tanto mais triste...

Faltava-lhes aquele poeta misterioso que a tudo de sua janela via e ouvia...

E, com o tempo, o povo foi-se indo...

Ficara a rua, a casa, a janela fechada, o silêncio, a lua que prateava as noites nas calçadas poucos iluminadas... as flores jasmins e damas da noite...

Todos eram agora como fotos em preto e branco, dependurados em varais de lambe-lambes a secarem... sem vida... inertes no tempo, eternizando-se em molduras sem cor...

O poeta não morreu... morreram suas poesias...

(Negra Noite- 19/02/2013 - terça-feira - 00:05 horas_

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A despedida

Milena Medeiros
Enviado por Milena Medeiros em 19/02/2013
Reeditado em 19/02/2013
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