A NOITE EM QUE O MEDO EMIGROU

Ofendia, humilhava, dava só o que sobrava

e porrada

e ela vivia dia a dia dos sobejos.

Até que a ousadia a rebelara, se ajoelhou pediu um beijo

um simples beijo

o chute veio insuspeitado pegou no queixo

dor e estrago

inaugurado, sem pompa e gala, novo defeito na cara

já tão marcada, tão amansada no medo

e num levante inesperado de tanta vida esgarçada,

desgraçada, esfiapada, vê a garrafa [cheia].

Bate num rítmo ligeiro bóim bóim bóim bóim

até arrebentar a veia e o sangue inundar o olho surpreso

até acabar a dor da raiva da rejeição de todo o dano do desengano

de tanto ano que ficou pra sempre perdido no tempo

até acabar todo o ar que preenchera aquele pulmão

desumano

agora o vento

levara o medo

E lavara as mãos.

[elza fraga]

Publicado no livro "No Fundo D'um Olho Seco"

Elza Fraga
Enviado por Elza Fraga em 21/02/2013
Código do texto: T4152584
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