A vida em quatro atos.

Antes de sentir você é um, se constrói e desconstrói no vazio. É firme, cheio de razões que desconhecem o amor, o querer, o ter vontade. Não sabe o que é a falta. Nao tem rima para saudade. Segue por um caminho sem desvios, contratempos, sustos e saltos, só que apenas segue.....

Ao sentir você é outro. Verdadeiramente humano diriam uns, acredito que apenas diferente. Não tem como ficar incólume a dor de sentir. Lucidez? Talvez delírio, vontade de ser. O sentimento dilacera, corta mesmo, transforma, divide, a soma só vem com o tempo, com o pacto que cada um faz consigo mesmo na espera de estar junto. A falta aparece, por vezes contundente. Vontade de querer estar perto, junto sem qualquer lógica ou razão. Vontade de querer ter mais vontade, desejos infinitos......O caminho. Qual caminho???

Depois de sentir, ainda que com choro, paira uma beleza única. Chega-se a percepção de si. Sinto, logo existo. Ou apenas existo para mais sentir? A vontade de estar junto não foi o suficiente. Existe vontade bastante para estar junto?Quando o não deve prevalecer diante do sim? O vazio, a falta, a espera atrasada de uma saudade que persiste, que se esconde e invade duraram quanto tempo?

O que vem depois de sentir? A espera de não sentir mais, de não encontrar nenhuma alma para chamar de sua, nenhuma coincidência nos gostos, nenhum encontro armado pelo destino, nenhum querer construído pelo cotidiano, nenhuma ternura no olhar, gesto, palavra. Ou para aqueles, que como eu, acreditam que viver é sempre querer mais, ir ou estar além resta a espera de sentir novamente. De despejar-se. O resto é mar.....