O Bonde
O BONDE
Nunca escrevi um poema sobre animais, apesar de todos os dias escutar histórias ao nosso cão. Hoje, quando vi uma fotografia de um gato, lembrei-me do nosso falecido gato – o “Bonde”.
Bonde entrou em nossa casa por ter sido abandonado.
A minha esposa, que como eu adora animais, chegou a nossa casa transportando um enorme gato – O Bonde.
Confesso que não queria o gato com medo dos nossos dois cães “podengos anões”.
Para mim, cão era cão e gato era gato – preferia os cães porque contavam histórias e eu gosto de os ouvir contar histórias de animais.
Só que na minha cabeça nunca tinha passado em ter um gato. Então, o gato, que sabia que eu sabia que nas histórias de cães há sempre gatos, começou a conquistar-me: saltava para a secretária do computador e colocava-se entre o teclado e o monitor para dar nas vistas.
Perdi-me pelo gato. Ou melhor, o gato conquistou-me e comecei a escutar contos, de gatos, onde também havia pássaros e cães.
Após um dia de trabalho, era com imensa alegria que encarava o regresso a casa …vinham todos os três à porta para me receberem: os dois cães e o gato.
É engraçado! Nunca faziam queixinhas.
A par destes animais domésticos existem uns bandos de pardais que a minha esposa recebe na varanda virada ao Tejo. Todos os dias os pássaros vêm comer arroz partido, a que chamam “trincas de arroz”, e é uma algazarra.
É nesta história entra o Bonde.
Já tinha avisado a minha companheira que o gato contava histórias sobre pássaros e lambia-se muito.
Por isso, o Bonde, quando apanhava a varanda aberta passeava-se pelo parapeito do 8º andar num passada precisa e, como era grande, para não espantar a passarada era logo recolhido.
Era uma alegria ver o gato sentado na mesa da sala contemplando os pássaros á janela. Quem olhasse para o gato nunca adivinharia outras intenções, senão, apanhar os pássaros.
Certo dia a minha esposa deixou a janela do nosso quarto aberta e o gato quis voar como um pássaro.
Confesso que chorei. E, como nesta história real entram cães, posso afirmar: não mais os ouvi falar mal dos gatos.
Acabo como comecei.
Nunca escrevi qualquer poema sobre animais, gosto de cantar “poemas de amor e dor”, porém não irei esquecer, tão depressa, as fábulas que ouvia contar ao nosso gato e à nossa cadela que já partiram.
Resta-nos, agora, o podengo anão – está velhote, dorme que nem um cão e repete as mesmas histórias que já conheço.
Esperem! Não disse o nome do nosso cão. É segredo! Sabem? Quando sussurram o seu nome ele acorda!
Rogério Simões
29-12-2004 23:38
(Retratos da alma e do poeta no éden do encantamento)