Por favor, OLHE.


    Vou sair só para olhar...
    Vou sair apenas para olhar... O não visto, o não percebido, o não sentido. Por vezes passamos na vida tão rapidamente que mal a vemos.
   Vamos vivendo...Apenas vivendo. E, deixando pra trás um rastro de coisas que não foram vistas. Simplesmente passaram despercebidas do nosso olhar...Do nosso olhar frio, mecãnico, material. O olhar que não viu o gira-sol virar, que não viu a tartaruga romper o ovo e avançar no mar. O olhar que não se deteve no essencial, o olhar que se apagou quando deveria esbugalhar, o olhar que murchou sem se maravilhar com o milagre da vida, simplesmente abortou. É preciso saber olhar. Deter o olhar, deixar que ele vague quase sem razão de ser, sem tempo marcado, que busque o belo, que descubra o sentido da vida. Ensinar o olhar a selecionar o ser visto. Fazer do olho o elo, do olhar uma festa. Deixar que ele escorra livremente quer um rio de lágrimas ou apenas aquela lágrima que insiste em ficar estancada, boiando... Boiando.
       Ah, olhar estrelas e querer acasalar com elas ou olhar o amado e, prontamente o desejo se acender... Olhar o acero da estrada e descobrir o azul, estupidamente azul da jitirana, ou o dourado do botão dourado bordando o capim. Pode vir de olhos azuis, verdes, pretos mas sempre o olhar será eterno. Eternizar o momento com um olhar, ferrar a retina, perenizar...
        Vou passear meus olhos nesse mar imenso até onde minha vista alcançar. Vou me embrenhar na Mata do Buraquinho e saciar minha fome de verde. Vou catar bichos e guardá-los dentro de mim, vou gastar meu olhar procurando beija-flores ou sabiás e em silencio, ouví-los. Vou me empanturrar com as cores da barreira do Cabo Branco, me cobrir com com a profusão de cores das falésias. Vou me deter na procura de teu rosto.
       Só aí eu  vou olhar, olhar, te decorar, voltar a olhar e morrer te olhando.